domingo, 21 de fevereiro de 2010

De novo, num novo lugar

Um lugar vago na cadeira ao lado, outro em frente, e mais tantos outros pelo teatro: se soubessem o que ia acontecer, não deixariam de ir. A mesma coreografia, a mesma do fim do ano passado, mas a primeira desse ano, ótimo então: na primeira a gente se pergunta o que acontece, na segunda é como o que acontece, acontece... O lugar era diferente, a fileira J, ao contrário do que se pensava, permite ver mais do palco, o que não muda muito, já que as maiores coxas do mundo prendem a vista, direcionam o olhar, restringem.
A Marisa estava lá, como é óbvio né, mano? Mas agora são muitas outras, tantas que só aumentam a confusão. A solidão é própria ao espetáculo, como já se falou, aliás esse é um belo título: A solidão e o espetáculo, ou, a solidão e o cinema e ele sempre valerá quanto o assunto for estética.
Mulheres belas também na platéia, coisa do Sesc... 2 litros d'áqua na drogaria da esquina custam 1,50, mais 2 do café, mais 5 do ingresso: 8,50 e agora o ano começou pra valer.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Diálogos platônicos - motel

- É, sei que é sempre assim, rápido e indolor, nem falo mais nada pra você...
- Ei, não é por minha causa. A recepcionista acabou de avisar ou não ouviu o telefone?
- Ahh, não se faça... Até parece que gostaria de ficar mais tempo. Parece que é coisa feita, sempre que começamos a conversar, a moça liga e você dá graças a Deus...
- Tá loca? Que foi linda, que bicho te picou?
- O mesmo de sempre: a sua indiferença.
- Xiii, deve estar chegando aquele período crítico...
- É está mesmo, e dai? Mas isso não muda o fato de que entre a gente é só sexo, nossos encontros dependem exclusivamente da sua vontade, do quanto você me quer e acabam junto com seu gozo...
- Caraca, você tá bem loca hoje, você não ouviu o telefone???
- Claro que ouvi, não sou surda, mas isso não muda nada...
- Lógico que muda, se ela ligou é porque estamos aqui a três horas, então eu preciso ir, tenho minhas coisas pra fazer...
- Tá vendo, é sempre do seu jeito, a gente vem aqui quando você quer e vai embora quando lhe é conveniente.
- Tá bom então, depois a gente continua com essa conversa quando você quiser, tá bom assim? mas agora temos que ir...
- Ainda vou conseguir te dar um fora, mas enquanto isso não acontece a gente se vê
- Linda, te adoro, sr...

Ética médica

- O assunto de hoje é o mais simples possível, caros alunos, porque primeiro devemos cuidar do simples para evitar erros quando avançarmos para questões mais complexas. O avental médico serve para manter o médico higienicamente preservado no ambiente de trabalho, hospital ou consultório, a bem dizer é uma formalidade, uma vez que vocês não trocam de avental a cada consulta, o que seria loucura, como é evidente, mas também é loucura desfilar pela rua de avental, isso só serve para chamar a atenção dos populares ou de qualquer um. Vocês esperam distição, por isso usam o avental para comer pastel na feira, como se fossemos diferentes ao comer pastel. Vocês querem ser identificados como doutores e se sentirão mais doutores com o tal avental branco que a essa altura já não está mais higienicamente preservado, porque a feira é tudo, menos higienicamente preservada.
A propósito de questões mais complexas, o título de doutor é conferido aos que fazem doudorado...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Negócio fechado

Fazia negócios. Era a resposta certa e pronta à pergunta: qual o seu serviço? ou, o que faz pra ganhar a vida? Ninguém sabia, ao certo, a quais negócios se dedicava, o que sabiam com certeza era seu tino pelas disputas. Diziam que isso vinha desde o batismo: seu pai queria chamá-lo de Mahamoud, por conta dos dias e do personagem central da revolução, achava que era um nome forte, sua mãe preferia Frederico, sem saber ao certo porque preferia esse ao escolhido pelo marido, mas como às mulheres basta o querer, assim ficou: Frederico Malaquias, coisa que agradeceu à mãe anos mais tarde, em silêncio, naquela intimidade que os filhos têm com as mesmas, supostamente por ser um nome mais comercial.
O que ninguém sabia era sobre os sonhos de Malaquias, que a bem dizer se resumiam a um só: liberdade. Queria deixar de lado toda a convenção familiar, pai e mãe, pertences da infância rica de menino abastado e bem nascido, casa, negócios, mesmo a riqueza adquirida, objetos, coisas que só aumentaram depois que passou a se dedicar aos tais negócios.
Até o dia em que se revoltou e achou um buraco na rede das convenções e se atirou no telhado vizinho satisfeito dos poucos segundos que teve de liberdade plena antes de se acabar feito um saco jogado fora. Sua liberdade custou-lhe a vida, o que, como bom negociante que era, trocou sem pestanejar...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Recorrente

o tema é mais antigo do que pensava:

"Sou morena
filhas de Jerusalhém
...
Não olhais eu ser morena
foi o sol que me queimou"
...
(Cânticos dos Cânticos, Primeiro Poema, Bíblia de Jerusalém)

Segundo a crítica, o fato de ser morena não era um elogio, significa que ela era pobre, era morena porque tomava Sol, o que era marca do trabalho. A continuação do texto afirma que a paixão descrita é o Amor de Deus por Israel. Não sabiam da Estética, nem que histórias de Amor interessam em quaquer formato, e essa merece por ser antiga, do começo dos Tempos.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A nós

Bem-aventurados os que nascem na época das chuvas, ela mesma sempre mote dos beijos, vide cinema; e por falar nisso: a solidão é própria ao espetáculo, o espectador julgará o que vê, percorrendo a série de categorias, as que lhe parecem convenientes, quanto mais ele viu, maior será a gama, mesmo que o objetivo seja sempre o mesmo:
-Qual a última vez que se permitiu a emoção? que é o que acontece quando se contempla o belo?
Mais uma pra coleção do paradoxal: fala-se de estética do corpo, mas é sempre ele que se busca, singularizado no 1 ou no sujeito, ou como queira chamar..
Mas não se deixe ver tudo! a mera pretenção retórica, se diluirá na surpresa do próximo, oxalá assim seja. É difícil subir pela via sintética e concluir o mesmo, mas se aceitar o convite, verá, ou não...

Felizes os que choram
porque ainda podem chorar