quinta-feira, 20 de novembro de 2008
O Tempo
Falar sobre o tempo pede recurso à uma fugacidade de instantes, exemplos, o que torna a tarefa difícil, bem como quanto pretende-se falar do movimento. Peço, então, auxílio aos academicos. Para Aristóteles esse "existir" não é mais que um "melhorar", posto ser a atualizaçao da matéria em direção forma, ou se preferirem, da potência ao ato; e tudo se diluirá no Ser, ele sim, ato puro, primeiro motor imóvel, aquele que está fora do próprio tempo e vê tudo passar, e que, como o amante, move sem nada fazer.
Pede a distinção lógica, uma vez que falamos do tempo significando as condições climáticas; outras vezes, como aqui, ele significa o passar do dia; o "time is money" pede pra esquecer seu próprio passar, mergulhados nos fazeres da rotina, para pensar em dinheiro e em como nos falta tempo pra ganhar mais. O próprio ideal de beleza encontra, aqui, um desafio: a mágica que torna as mulheres mais velhas, mais novas do que quando eram jovens; tenta assim, disfarçar a passagem do Tempo, como o exemplo de Dorian Gray, mesmo que o pacto seja menos macabro. Diferente da citação, onde as coisas têm princípio, e dai um fim, nosso tempo é o da novidade, do que está por vir, nunca do agora. Então, a fugacidade do instante, do prazer fazer sentido.
Saber que poucas coisas escapam dessa engrenagem pós-moderna, (mesmo que moderno signifique, os que são do nosso tempo, o que torna desnecessário o pós), tornará o viver mais significativo quando encontrarmos algo assim, e se me pedem exemplos: a Arte e o Amor, acho que estes são os melhores, mesmo que as maiúsculas peçam explicações.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
II.
Esse nada, chamava a atenção pelo fato de ser inútil. Não era possível ver, com a precisão que se espera, a cor dos olhos, ou mesmo, as imperfeições da pele. E se perguntava por que não dava, ele mesmo, um fim naquilo tudo? Se os tempos fossem outros, se a avó ainda estivesse por ali para recriminar-lhe os atos violentos, vá lá, mas sentia que não podia, e mesmo que fosse pra ver pouca coisa, olhava, mais atento do que nunca, e via ainda a mancha, a mesma, de anos. Lembrava dela pequena, mas a cada vez que voltava os olhos para ele, o que não fazia com freqüência, a marca aumentava, como quem diz: Não está me vendo aqui?
Cansado do descaso, resolveu por um fim nas dúvidas e passou a olhar diretamente, pela última vez, para a herança da família. Herança? Aquilo era tudo, menos coisa pra guardar pra posteridade, pras futuras gerações... Olhou, e viu seu rosto, como nunca antes, com toda a sua velhice prematura; a prata havia descolado, ou era o seu rosto que havia impregnado a feiura? Não tinha razão para continuar com aquilo, estava decidido. Quando o pegou da parade, e segurou relembrando as peripécias de menino; quando o trouxe na altura dos olhos, ele se partiu, parecia que havia sido atirado ao chão. Quebrado em milhares de pedaços, era possível escutar o seu desdém, no barulho do estilhaço, como quem diz: Acabou, e pra você, deixo os cacos...
Só restou a vergonha
parênteses
Os espectadores deixaram o teatro antes do fim, saída discreta pela pela porta dos fundos. Ficamos na primeira fila a espera do instânte perfeito...
Existem coisas que só precisam da ocasião pra serem boas. Essas sempre valem a noite, e, então, o Belo.
o telefone tocou quando começava Got be real. Assim como a chuva, as borboletas, as boas músicas trazem um novo significado pro dia, pro todo.
Era Ela; não sabia bem o que fazer, aquele frio que sobe por dentro, as lembranças; é curioso como a vida passa rápido no quando do perigo. Mentira, não era perigo, era o amor que trazia as lembranças, tudo, ao mesmo tempo: a loucura, a paixão, as desculpas, que nunca são capazes de tirar a culpa, as marcas...
Não queria atender... ou queria? E, então, escutaria a voz rouca, suave; a delicadeza das mãos, dos pés, as unhas à francesa, a cintura, era a vida, o porquê, e quando não, nas ausencias do dia, era a foto que levava na carteira, duas pro caso de perder.
Já não pensava mais. Seria tudo novo de novo, a casa, os filhos, o resto da vida, pra sempre. Lógico que as coisas dariam certo; nunca mais discussões; perfeito...
Então, estava tudo certo,
menos a curva cega na pista molhada.
Ainda podiam escutar o telefone.
domingo, 16 de novembro de 2008
I.
Bela, ainda menina, no mínimo, nos jeitos. A flor de croché nos cabelos conferia o ar da mais pura das mulheres, daquelas que deixa a Razão falando sozinha, sem audiência, a qual se volta toda para ela quando entra na sala.
O vestido, sempre o vestido, nem curto, nem longo, mostrava as pernas e pedia o resto à imaginação.
Era dia de festa na rua, pessoas conhecidas, pessoas novas, de repende, era o seu sorriso que foi seguido da pergunta despretenciosa: Você se parece com alguém?!
Só sobraram as costas pra ouvir a resposta.
da rua Vergueiro
Fica também acertado entre nós, que nada está acertado antes de existir, de estar posto no post, devidamente configurado e imagéticamente visualizado, à imagem das páginas de um livro de páginas amarelas, que fechamos quando a porta do trem se abre e é hora de entrar... ou de sair. Serve então de prólogo, proêmio, prefácio, pois são aquelas reservadas às explicações, e que preparam os leitores para o que virá.
Essas histórias de homens e mulheres, as quais, provavelmente, só farão sentido quando lidas no ponto certo da varanda, são as mesmas que acontecem no ir e vir de todo da dia útil, que acostuma os olhos à beleza da cidade cinza, que por suas formas facilita o enquadramento num filme futuro, mesmo que já não hajam mais tantas varandas para serem filmadas...
sábado, 15 de novembro de 2008
Um certo Homem
A visão do Belo causa, em todos nós, a multiplicidade de sentimentos próprios aos amantes. Por isso, nunca é com um olhar desinteressado que o espectador contempla o espetáculo. Porém, por vezes, acontece algo que diz respeito tão somente aos artistas que o apresentam e que estarão sujeitos à crítica do esteta, (a bem da verdade é que ele diz respeito aos espectadores, mas o ingresso já foi pago, então, é tarde para arrependimentos): a falta do, Homem de Gênio! Ele é aquele que, seja em qual arte for, (teatro, música, dança...), faz a diferença, exatamente por não ficar restrito ao universo do comum.
Darei um exemplo, para que se torne mais claro o que digo: O espetáculo "Bossa Nova", da companhia de dança, Ballet Estagium, por não contar com nenhum daqueles poucos Homens, torna uma apresentação que tem a trilha sonora "perfeita", em uma repetição infindável do mesmo gestual de mãos, o que mostra a limitação do coreógrafo que, no caso deste tipo espetáculo deveria ser o Homem de que falei antes, e sem o qual não será possível sair do comum. Não peço saltos, manobras, ou coisas mágicas, o Homem de Gênio é exatamente aquele que responde a pergunta: por que com mais, se com menos? então, não será o uso de efeitos especiais que trará a mágica ao espetáculo.