sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Genial!
sr.
sobre a cópia
Pra nossa sorte, os ventos do sul trazem o novo, e então, o espetáculo é certo.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Diálogos platônicos
- séria, Não vai adiantar, agora, vc me dizer isso assim, com essa calma, como se nada tivesse acontecido. Como se minhas atitudes fossem perdoáveis. Não quero seu perdão, não quero mais nada.
-Mas eu sim, quero que as coisas sejam como...
- interrompendo ferozmente, Suas carícias, seus agrados, não mudarão o que fiz, nem o que o que ainda quero fazer.
- surpreso, Como assim?
-sarcástica, Que foi? Não achou que ia parar por aqui, né? Escuta o que te digo: Eu mudei! Quero ser outra, vc não me basta mais. Seus sonhos não me servem mais.
- alterando a fisionomia, Quer dizer que os sonhos eram meus? Quer dizer que a casa branca, as crianças... foram desejos meus?
- num tom mais ameno, Sabe que não, mas...
- interrompendo, É, agora vejo o que está acontecendo...
- séria, Ahhh, não me venha com suas interpretações, seus achismos. Não me interessa a teoria que me apresentará, agora.
- calmo, Não faça pouco dos meus pensamentos, ou esquece que foi por eles que se apaixonou?
- É, esse foi meu erro.
- Erro? Não querida, é isso que acontece quando nos deparamos com a verdade. Foi ela quem te convenceu, sabe que não encontrará outro, assim, como eu...
- E quem disse que é isso que eu procuro?
- Me lembro, agora, de uma música: Quando olhastes bem, nos olhos meus, e o teu olhar era de adeus... E os seus não me parecem assim...
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
O Tempo
Falar sobre o tempo pede recurso à uma fugacidade de instantes, exemplos, o que torna a tarefa difícil, bem como quanto pretende-se falar do movimento. Peço, então, auxílio aos academicos. Para Aristóteles esse "existir" não é mais que um "melhorar", posto ser a atualizaçao da matéria em direção forma, ou se preferirem, da potência ao ato; e tudo se diluirá no Ser, ele sim, ato puro, primeiro motor imóvel, aquele que está fora do próprio tempo e vê tudo passar, e que, como o amante, move sem nada fazer.
Pede a distinção lógica, uma vez que falamos do tempo significando as condições climáticas; outras vezes, como aqui, ele significa o passar do dia; o "time is money" pede pra esquecer seu próprio passar, mergulhados nos fazeres da rotina, para pensar em dinheiro e em como nos falta tempo pra ganhar mais. O próprio ideal de beleza encontra, aqui, um desafio: a mágica que torna as mulheres mais velhas, mais novas do que quando eram jovens; tenta assim, disfarçar a passagem do Tempo, como o exemplo de Dorian Gray, mesmo que o pacto seja menos macabro. Diferente da citação, onde as coisas têm princípio, e dai um fim, nosso tempo é o da novidade, do que está por vir, nunca do agora. Então, a fugacidade do instante, do prazer fazer sentido.
Saber que poucas coisas escapam dessa engrenagem pós-moderna, (mesmo que moderno signifique, os que são do nosso tempo, o que torna desnecessário o pós), tornará o viver mais significativo quando encontrarmos algo assim, e se me pedem exemplos: a Arte e o Amor, acho que estes são os melhores, mesmo que as maiúsculas peçam explicações.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
II.
Esse nada, chamava a atenção pelo fato de ser inútil. Não era possível ver, com a precisão que se espera, a cor dos olhos, ou mesmo, as imperfeições da pele. E se perguntava por que não dava, ele mesmo, um fim naquilo tudo? Se os tempos fossem outros, se a avó ainda estivesse por ali para recriminar-lhe os atos violentos, vá lá, mas sentia que não podia, e mesmo que fosse pra ver pouca coisa, olhava, mais atento do que nunca, e via ainda a mancha, a mesma, de anos. Lembrava dela pequena, mas a cada vez que voltava os olhos para ele, o que não fazia com freqüência, a marca aumentava, como quem diz: Não está me vendo aqui?
Cansado do descaso, resolveu por um fim nas dúvidas e passou a olhar diretamente, pela última vez, para a herança da família. Herança? Aquilo era tudo, menos coisa pra guardar pra posteridade, pras futuras gerações... Olhou, e viu seu rosto, como nunca antes, com toda a sua velhice prematura; a prata havia descolado, ou era o seu rosto que havia impregnado a feiura? Não tinha razão para continuar com aquilo, estava decidido. Quando o pegou da parade, e segurou relembrando as peripécias de menino; quando o trouxe na altura dos olhos, ele se partiu, parecia que havia sido atirado ao chão. Quebrado em milhares de pedaços, era possível escutar o seu desdém, no barulho do estilhaço, como quem diz: Acabou, e pra você, deixo os cacos...
Só restou a vergonha
parênteses
Os espectadores deixaram o teatro antes do fim, saída discreta pela pela porta dos fundos. Ficamos na primeira fila a espera do instânte perfeito...
Existem coisas que só precisam da ocasião pra serem boas. Essas sempre valem a noite, e, então, o Belo.
o telefone tocou quando começava Got be real. Assim como a chuva, as borboletas, as boas músicas trazem um novo significado pro dia, pro todo.
Era Ela; não sabia bem o que fazer, aquele frio que sobe por dentro, as lembranças; é curioso como a vida passa rápido no quando do perigo. Mentira, não era perigo, era o amor que trazia as lembranças, tudo, ao mesmo tempo: a loucura, a paixão, as desculpas, que nunca são capazes de tirar a culpa, as marcas...
Não queria atender... ou queria? E, então, escutaria a voz rouca, suave; a delicadeza das mãos, dos pés, as unhas à francesa, a cintura, era a vida, o porquê, e quando não, nas ausencias do dia, era a foto que levava na carteira, duas pro caso de perder.
Já não pensava mais. Seria tudo novo de novo, a casa, os filhos, o resto da vida, pra sempre. Lógico que as coisas dariam certo; nunca mais discussões; perfeito...
Então, estava tudo certo,
menos a curva cega na pista molhada.
Ainda podiam escutar o telefone.
domingo, 16 de novembro de 2008
I.
Bela, ainda menina, no mínimo, nos jeitos. A flor de croché nos cabelos conferia o ar da mais pura das mulheres, daquelas que deixa a Razão falando sozinha, sem audiência, a qual se volta toda para ela quando entra na sala.
O vestido, sempre o vestido, nem curto, nem longo, mostrava as pernas e pedia o resto à imaginação.
Era dia de festa na rua, pessoas conhecidas, pessoas novas, de repende, era o seu sorriso que foi seguido da pergunta despretenciosa: Você se parece com alguém?!
Só sobraram as costas pra ouvir a resposta.
da rua Vergueiro
Fica também acertado entre nós, que nada está acertado antes de existir, de estar posto no post, devidamente configurado e imagéticamente visualizado, à imagem das páginas de um livro de páginas amarelas, que fechamos quando a porta do trem se abre e é hora de entrar... ou de sair. Serve então de prólogo, proêmio, prefácio, pois são aquelas reservadas às explicações, e que preparam os leitores para o que virá.
Essas histórias de homens e mulheres, as quais, provavelmente, só farão sentido quando lidas no ponto certo da varanda, são as mesmas que acontecem no ir e vir de todo da dia útil, que acostuma os olhos à beleza da cidade cinza, que por suas formas facilita o enquadramento num filme futuro, mesmo que já não hajam mais tantas varandas para serem filmadas...
sábado, 15 de novembro de 2008
Um certo Homem
A visão do Belo causa, em todos nós, a multiplicidade de sentimentos próprios aos amantes. Por isso, nunca é com um olhar desinteressado que o espectador contempla o espetáculo. Porém, por vezes, acontece algo que diz respeito tão somente aos artistas que o apresentam e que estarão sujeitos à crítica do esteta, (a bem da verdade é que ele diz respeito aos espectadores, mas o ingresso já foi pago, então, é tarde para arrependimentos): a falta do, Homem de Gênio! Ele é aquele que, seja em qual arte for, (teatro, música, dança...), faz a diferença, exatamente por não ficar restrito ao universo do comum.
Darei um exemplo, para que se torne mais claro o que digo: O espetáculo "Bossa Nova", da companhia de dança, Ballet Estagium, por não contar com nenhum daqueles poucos Homens, torna uma apresentação que tem a trilha sonora "perfeita", em uma repetição infindável do mesmo gestual de mãos, o que mostra a limitação do coreógrafo que, no caso deste tipo espetáculo deveria ser o Homem de que falei antes, e sem o qual não será possível sair do comum. Não peço saltos, manobras, ou coisas mágicas, o Homem de Gênio é exatamente aquele que responde a pergunta: por que com mais, se com menos? então, não será o uso de efeitos especiais que trará a mágica ao espetáculo.