domingo, 27 de dezembro de 2009

Dia de festa

Tinha crédito pra falar a vontade com fixo, no normal das vezes ligaria pra irmã ou mesmo pra uma amiga do colégio, mas a novidade da cidade era também a da solidão: não conhecia pessoa ali, nem a conheciam também, era um vetor que dava resultado zero. Se lhe acontece algo no quarto, demoraria dias até o cheiro se alastrar. Já experimentara ficar quieta, em silêncio, pra ver se aparecia um vizinho preocupado, mesmo curioso servia, alguém, qualquer um... mas ficou sozinha tempo bastante pra perceber que se não visse alguém enlouqueceria e aí ela mesmo daria cabo daquela situação. Não, buscaria pão, tomaria café na padaria, sentaria na praça.
Jamais pensou que seria assim, logo teria as crianças, as aulas... mas agora não tinha nada. Só a lembrança do que ficou era capaz de lhe trazer o sorriso à boca: o batom nos lábios carnudos, os dentes brancos e as argolas de dia de festa; de um tempo que ficou esses eram seus preferidos: se arrumava qual uma bailarina em dia de apresentação, em frente ao espelho, o cabelo, a maquiagem, verificava a roupa, tudo nos mínimos detalhes...
Não pensaria mais nisso! E se foi quando o Sol passou os morros que circundavam a vila.

Um comentário:

netovt disse...

Manow,
Confesso que as vezes consigo entender seus textos depois da sexta, sétima leitura...ahahahaha
Nesse, apesar de não compreender totalmente...deixo aqui meu elogio para tua forma de escreve-lo !!! Lindo Texto !!!
Visualizei todas as imagens da personagem....e isso só acontece em textos que são foda !!!